"...Mas seu descompasso com o mundo chegava a ser cômico de tão grande: não conseguira acertar o passo com as coisas ao seu redor. Já tentara se pôr a par do mundo e tornara-se apenas engraçado: uma das pernas sempre curta demais. (O paradoxo é que deveria aceitar de bom grado essa condição de manca, porque também isto fazia parte de sua condição). (Só quando queria andar certo com o mundo é que se estraçalhava e se espantava)"
Engraçado como é assim mesmo, o exercício diário de estar no mundo consiste numa batalha de Titãs com o paradoxal ser de cada um de nós.... é assim que eu me sinto quando paro para pensar nisso tentando prestar um pouco de atenção a mim mesma.
"Mas ah, a falta de sede.
Não havia senão faltas e ausências. E nem ao menos a vontade. Só farpas sem pontas
salientes por onde serem pinçadas e extirpadas. Só os dentes estavam úmidos. Dentro de uma boca voraz e ressequida os dentes úmidos mas duros — e sobretudo a boca voraz
para nada. E o nada era quente naquele fim de tarde eternizada pelo planeta Marte (...) E o Deus? Não. Nem mesmo a angústia. O peito vazio, sem contração.
Não havia grito."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
... é... Clarice... talvez ela tenha capturado com sua gigante antena cósmica um pedaço de cada um de nós... lindo, Anna.
ResponderExcluir